Por meio da Carta ao Cliente, o Banco BRP relata, mensalmente,os fatos mais relevantes ocorridos no Brasil e no mundo no âmbito econômico e político
Ribeirão Preto, 02 de dezembro de 2019
Prezado cliente,
No Brasil, momentos de forte desvalorização da moeda nacional comumente são associados a fraquezas da saúde econômica e financeira do país, gerando elevado grau de inquietação. Em novembro, a cotação do dólar atingiu seu recorde nominal, terminando o mês em R$ 4,224 com 5,49% de alta, e levou o Banco Central a intervir, fazendo uso das reservas, para dirimir que alguma "disfuncionalidade do mercado" contaminasse a economia.
Nessa época do ano há uma “pressão natural” no câmbio devido a sazonalidade das remessas de dividendos pelas empresas multinacionais para suas matrizes. No entanto, a atual depreciação do Real pode ser atribuída a outros fatores mais complexos, quais sejam i) o resultado aquém do esperado do leilão da cessão onerosa do pré-sal, que frustrou as expectativas de ingresso de dólares, ii) o saldo da balança comercial mais fraca, refletindo o enfraquecimento das exportações em parte pela crise argentina e queda nos preços de algumas commodities, e iii) no ambiente externo, o crescimento mais forte que esperado da economia dos Estados Unidos está levando o banco central americano a sinalizar uma pausa nos cortes de juros, o que desencadeou uma valorização relevante do dólar frente às outras moedas de países emergentes. Somado a isso, a taxa SELIC em sua mínima histórica reduziu a atratividade dos ativos de renda fixa brasileiros, e levou as empresas privadas para o movimento de troca de dívida em moeda estrangeira por dívida local mais barata.
Apesar da desvalorização do Real, nosso cenário para inflação continua benigno. Esperamos aceleração marginal no índice, mas não o suficiente para tirá-lo do centro da meta. A grande ociosidade dos fatores de produção limita os impactos secundários da desvalorização da moeda. Nosso cenário já engloba o choque na cadeia das carnes (que deve arrefecer no início de 2020), o reajuste dos combustíveis (em linha com os preços internacionais), a expectativa de um menor efeito deflacionista trazidos pelos hortifrutis e a redução da bandeira tarifária nas contas de luz.
Os dados mostram que a atividade começa a ganhar tração, mesmo que ainda abaixo do seu potencial. Teremos em breve a divulgação dos dados do PIB referente ao 3º trimestre, que devem trazer números relacionados ao investimento e ao consumo mais robustos. A expansão do crédito, o aumento da massa salarial e a liberação de saques do FGTS impulsionaram as despesas das famílias. O aumento do número de lançamentos e vendas, mostram um crescimento consistente no mercado habitacional. O restante da construção civil, que ainda não mostrou reação, deverá ser impulsionado pelo ambiente mais favorável às concessões.
Um importante pilar para a manutenção deste cenário é a continuidade das Reformas. O andamento desta agenda é vital para consolidar o ajuste fiscal, melhorar o ambiente de negócios e atrair investimento. Entretanto, pronunciamentos inoportunos de membros do governo com referências autoritárias expõe o lado imperial do Executivo, e eleva o desconforto entre os poderes. Declarações como essas, que já é uma das marcas do atual governo, criam dificuldades políticas para si. O governo deveria se preocupar mais com aprovação das reformas e recuperação da economia, do que se apequenar com declarações comprometedoras que só atrapalham.
Esperamos que o Banco Central encerre o ciclo de cortes de juros em dezembro com mais uma redução da Selic. A partir daí, a boa técnica recomenda cautela e destreza para observar o desempenho da economia e da inflação, antes de definir os próximos passos da política monetária.
Walter Mitssuo Haga Guilherme B. Elias Andrew N. de Oliveira