Carta ao cliente

02.03.2020 - Carta ao cliente

Por meio da Carta ao Cliente, o Banco BRP relata, mensalmente,os fatos mais relevantes ocorridos no Brasil e no mundo no âmbito econômico e político

Ribeirão Preto, 02 de Março de 2020

Prezado cliente,

As perspectivas econômicas já apresentavam uma série de dificuldades e a velocidade da contaminação pelo coronavírus potencializou as incertezas, chacoalhando de maneira violenta os preços dos ativos financeiros ao redor do mundo.

Há estimativas de desvalorização apenas no mercado acionário, dos países desenvolvidos somados aos emergentes, que chegam próximo de 6 trilhões de dólares.

As autoridades econômicas internacionais têm agido para, na medida do possível, atenuar os efeitos econômicos da infestação viral.

A grande questão, muito difícil de ser avaliada pela boa técnica, é o tempo de duração do problema. O Covid-19 continuará se espalhando e atingindo de maneira profunda o tecido econômico até onde e por quanto tempo?

O protagonismo que elevou de maneira imensurável a incerteza, passou a ser da biologia, saúde pública, não da política ou da economia.

Na hipótese da doença poder ser controlada em curto lapso de tempo, as economias afetadas terão uma recuperação muito rápida. Isto ocorreu em outros eventos semelhantes. A busca por recuperar o “tempo perdido” tende a acelerar bastante a atividade logo após eventos que não tem raízes em questões econômicas, como neste caso.

Em contrapartida, a eventual demora na mitigação dos problemas poderá ser muito grave para a economia. O mundo desenvolvido, devido ao excesso de liquidez encontra-se muito alavancado e poderá haver incapacidade de pagamento por parte de empresas, famílias e instituições financeiras.

O Brasil tem uma economia muito fechada e os principais setores são majoritariamente apoiados no mercado interno. É grande exportador de commodities, houve forte desvalorização do petróleo e minério de ferro, mas não nos outros. Os preços e a demanda pelos produtos agrícolas têm se mantido em níveis normais com pouca influência identificável, advinda do surto viral.

As simulações econométricas não apontam para o Brasil, reduções relevantes na atividade econômica, emprego, investimentos, finanças públicas, a inflação pode ser ligeiramente menor (queda no custo da energia) e juros. Claro, a não ser que a epidemia se alastre e seja duradoura no Brasil.

Infelizmente os embates políticos e os problemas da economia brasileira fazem com que as perspectivas para o crescimento econômico brasileiro percam dinamismo semana a semana. Vide a postura da Presidência da República atiçando a população contra o Congresso Nacional, a paralisia nas reformas (administrativa e tributária) além do baixíssimo “delivery” nas tão propaladas concessões e privatizações depois de quatorze meses de governo. 

No segundo semestre, como é sabido, há eleições municipais. Época em que a disputa política recrudesce e os avanços na agenda econômica tornam-se improváveis.

A janela de oportunidades para os avanços na economia está se fechando tendo sido muito pouco aproveitada até agora. A sociedade poderá, mais uma vez, perder a chance de um crescimento mais sustentável, ou seja, mais uma vez, pagar a conta.

Atenciosamente,

Nelson Rocha Augusto

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