Ribeirão Preto, 01 de março de 2019.
Prezado cliente,
Dois meses após o início do novo Governo Federal e um mês depois da posse dos novos congressistas – embora ainda seja muito cedo para qualquer análise mais profunda – é possível perceber uma enorme desarticulação.
Do ponto de vista da coordenação política, tudo, inclusive a oposição, parece e aparece desajeitado.
A equipe econômica tem um projeto muito claro, coerente, sancionado pelas urnas em outubro último e tem trabalhado num ritmo forte, mostrando unicidade de objetivos e linguagem, o que é muito importante e dá certo “lastro” ao equilíbrio de todo o resto do governo.
O Congresso Nacional recebeu um projeto de profunda reforma para a previdência social que socializa, com toda a sociedade brasileira os custos do ajuste, com sustentabilidade no longo prazo. E isso, se assim aprovado, impactará de forma proporcional aos ganhos, capacidade de pagamentos e benefícios auferidos. Quem ganha mais paga mais e vice e versa.
Muitas outras coisas do ponto de vista econômico têm sido feitas, como por exemplo a venda de parte relevante, e muito bem sucedida, do IRB (Instituto Brasileiro de Resseguros), o preparo de inúmeras privatizações, concessões e aceleração da agenda BC+ (com mudanças significativas, de maneira a dar mais competição com redução de custo e expansão do crédito, não só no sistema bancário tradicional, mas também via mercado de capitais e fintechs).
A questão toda é que a gravidade da situação das contas públicas da União, Estados e Municípios é tão urgente que o tempo político pode, mais uma vez, erodir vorazmente toda a perspectiva de mudança no modelo econômico, uma vez que tais alterações sempre demoram para apresentar resultados concretos.
Claro que a coordenação política pode perfeitamente entrar “nos trilhos” e haver uma sintonia dos “times” político e econômico.
A questão atual é exatamente decodificar como isto dar-se-á.
A precificação dos ativos financeiros, sempre extremamente sensível aos mais diversos aspectos que podem influenciar o funcionamento da economia, reagiu em fevereiro. O dólar valorizou-se frente ao real 2,67%, os juros futuros, de três anos à frente, subiram 1,96% e as ações das empresas medidas pelo Ibovespa caíram 1,86%.
O Brasil não pode esperar, já queimou todo o tempo que tinha para fazer ajustes econômicos nas crises do passado. O advento da Nova Previdência é urgente e muito importante, mas é só o primeiro passo. A caminhada para o desenvolvimento sustentável com justiça social é longa.
Atenciosamente,
Nelson Rocha Augusto