Ribeirão Preto, 01 de novembro de 2018.
Prezado cliente,
As eleições deste ano marcaram o fim de um ciclo, que teve início com a promulgação da constituição nacional de 1988, a abertura política e a primeira eleição direta para presidente da República, ocorrida em 1989, após o período da ditadura militar.
Nos últimos trinta anos houve uma evolução muito grande nas conquistas da sociedade brasileira. De uma maneira geral, os indicadores sociais, as conquistas de direitos, as condições econômicas e o funcionamento das instituições permitiram que a vida dos brasileiros melhorasse muito.
Claro, esses avanços, poderiam e deveriam ter sido muito maiores. Havia condições para isto. O país “abençoado por Deus e bonito por natureza”, historicamente, perde enormes chances de avançar.
Certamente há várias razões amplamente descritas, estudadas, com fundamentos científicos, que explicam esta triste face da recorrente perda de oportunidades que marca o caminho brasileiro. Uma delas é a forma de representação política: nosso disfuncional sistema político.
Nestas eleições, a população, através das urnas, impôs um esfarelamento de tudo isto. Todos os principais partidos políticos foram sumariamente reprovados pelos eleitores. O tempo de T.V. não garantiu votação expressiva de praticamente nenhum candidato. A desigual partilha dos fundos públicos que financiaram as campanhas, não garantiu êxito aos velhos caciques políticos. As mídias sociais fizeram os eleitores terem praticamente um canal direto com os candidatos.
Os políticos nunca quiseram fazer a reforma política completa (houve um avanço importante, recentemente, com o fim do financiamento das empresas, cláusulas de barreira, etc.) porque a permanência do modelo vigente interessava a eles. Estas eleições mostraram que isto acabou e que as condições para mudar estão postas. Quem sabe vem por aí o voto distrital misto, que permitirá ao eleitor acompanhar muito de perto o que fazem os parlamentares.
A renovação no Congresso Nacional foi muito maior que o esperado e o seu funcionamento não deverá mais ser organizado pelos partidos (para que as bases sejam formadas) e sim por assunto. O parlamentar cada vez mais tende a se sentir “dono” do seu mandato. A inédita mobilização popular com as mídias sociais, mesmo que arrefecendo depois do calor das eleições, tende a não mais permitir que cada eleito faça o que bem entender.
A comunicação com a interatividade por uma “ligação direta” com a população é um legado desta eleição, o que permite acreditar que o país terá cada vez mais que discutir e debater os principais assuntos de interesse da população. Esta é a verdadeira mudança que pode fazer uma inflexão na curva do desenvolvimento político, social e econômico brasileiro.
O diplomado pela justiça eleitoral no início do próximo ano que não compreendeu isto, certamente terá grandes dificuldades pela frente.
Não se trata de uma mobilização permanente, isto não existe; as pessoas têm suas preocupações individuais e precisam cuidar das suas vidas. Mas, a sociedade toda, por tudo que ocorreu no Brasil, ficou tão inflamada que isso gerou um estado de vigilância, com gatilhos disparados pelas mídias, quando algo relevante sair do eixo desejado por parcela representativa da sociedade, sendo assim a mobilização tende a ser instantânea.
A economia brasileira já entrou nos últimos meses em um novo ciclo de recuperação. Há crescimento e a transformação disto em desenvolvimento sustentável depende, primeiramente, do enfrentamento do gigante déficit público (7,5% do PIB nominal deste ano) e, posteriormente, da ampliação significativa da produtividade cuidando do alargamento das oportunidades para todos.
Se o novo governo conseguirá direcionar para este lado, depende da sua compreensão disto, da capacidade de arregimentar forças para esta direção e do empenho de toda sociedade em prol do bem comum. Não será fácil...mas é possível.
Atenciosamente,
Nelson Rocha Augusto