Prezado Cliente,
Está em marcha no país um processo, conduzido pela política, de reconstrução geral. A ampla frente liderada pelo Presidente Lula tomou posse ontem e começa uma transformação profunda em praticamente tudo que envolve a sociedade brasileira.
A composição do novo governo é plural, diversificada e multi representada. Escolheu o resgate do social como a prioridade, o ponto de partida. A comunicação, os atos e os sinais são outros. Há uma guinada total em quase tudo, a forma de fazer as coisas, é outra.
Há perspectivas para resultados bastante positivos, além do social, na saúde, educação, meio ambiente, relações internacionais, ciência e também no fortalecimento institucional.
Isto tudo, acontecendo simultaneamente, traz enormes desafios para a gestão em cada uma destas áreas e mais ainda para a integração de todas elas. É uma tarefa gigante que vai exigir muito de todos. Há um norte claro do que está sendo feito, qual é a diretriz.
A autoestima do povo brasileiro certamente vai aumentar, tendendo a haver importantes melhoras nas expectativas dos agentes econômicos conforme (e se) a gestão nas mais diversas frentes vá se mostrando eficiente.
É fundamental ter claro que o Brasil contemporâneo exibe um frágil equilíbrio macroeconômico. A inflação está em declínio, as contas externas estão saudáveis, há um grande colchão de reservas em moeda forte (dólares), o nível de investimentos e emprego tem se recuperado lentamente (mas de forma consistente). A grande questão é fiscal. O país acumulou uma dívida interna alta, de curto prazo, muito cara (pratica-se a maior taxa de juros real do mundo), tem uma carga tributária entre as maiores, mesmo quando comparada aos países ricos.
Fazer todas as transformações que estão propostas com esta fragilidade financeira do setor público é uma tarefa quase impossível. Como a experiência histórica mostra e a teoria econômica reforça, a deterioração fiscal produz aceleração inflacionária. Preços de bens e serviços em aceleração penalizam severamente os menos favorecidos, ou seja, abre novamente o fosso social, desorganiza a economia e aborta o crescimento.
O novo governo não mostrou como vai conduzir a questão fiscal brasileira, apenas disse que não permitirá expansão do déficit. Ocorre que tudo que sinalizou (e fez) até agora, foi na direção contrária. Comprometeu-se ainda, em encaminhar para o Congresso Nacional até agosto uma nova âncora fiscal.
É fundamental que esta âncora seja crível, robusta, que cumpra efetivamente o papel de dar segurança, de “ancorar” um equilíbrio macroeconômico estável e duradouro. Não poderá ser flexível, pois o papel de “dar lastro” é exatamente ser rígido, nunca o contrário.
Insistir em não se comprometer efetivamente com o equilíbrio fiscal de longo prazo é colocar tudo a perder, o povo brasileiro não merece isto.
Atenciosamente,
NELSON ROCHA AUGUSTO
Observação: Central de Atendimento Banco Central do Brasil (DDG) 0800 979 2345