Ribeirão Preto, 01 de outubro 2024.
Prezado Cliente,
Ao longo do mês de setembro, foram tomadas importantes decisões de política monetária, tanto no Brasil quanto no exterior.
Nos EUA, o FOMC deu início ao tão esperado ciclo de redução de taxas de juros. Não apenas o fez, mas também reduziu em 0,5 p.p., de forma mais intensa do que o esperado. Em seu comunicado, o comitê americano deixou claro que o mercado de trabalho está em desaceleração, enquanto a inflação se aproximou da meta de 2% (no dado mais recente, estava em 2,2%). Após um longo período de maior preocupação com a inflação, dentro do seu duplo mandato de controle inflacionário e máximo emprego, a autoridade monetária americana passou a equilibrar esses dois objetivos. Ficou claro que um esfriamento maior no mercado de trabalho não será bem-vindo.
Ainda no cenário externo, a economia chinesa tem suscitado crescentes preocupações devido à perda de dinamismo. Como importante player no mercado global, a China é duplamente relevante para o Brasil: é uma grande compradora de nossas commodities e possui uma enorme capacidade industrial, contribuindo mundialmente para a redução de preços de bens comercializáveis. O governo chinês, por sua vez, tenta combater a deflação. Nesse sentido, o PBoC também anunciou uma redução de juros, além de outras medidas para estímulo à economia, ao consumo e à confiança.
No Brasil, o Comitê de Política Monetária deu início a um novo ciclo de elevação de juros. Em suas comunicações, o Copom demonstrou que vê um cenário externo mais benigno, porém ainda desafiador, com um momento de inflexão no ciclo econômico nos EUA (onde se espera uma desaceleração gradual e ordenada) e uma desaceleração na economia chinesa. No cenário doméstico, o comitê ressaltou mais uma vez a surpresa com a dinâmica da atividade, com um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor do crédito, estimando agora que a economia está crescendo em um ritmo acima do potencial. Destacou também a desancoragem das expectativas inflacionárias (muito em função da descrença na gestão fiscal) e a interrupção do processo desinflacionário, que, associados à forte atividade econômica, dificultam a convergência da inflação para a meta de 3%.
Mantemos nossa visão de otimismo moderado. Embora os desafios estruturais permaneçam (baixo nível de investimento em relação ao PIB, rigidez do orçamento federal, elevado nível de endividamento público e a necessidade de controle de gastos), a economia brasileira continua passando por um bom momento.
A redução dos estímulos fiscais, após os efeitos do ciclo eleitoral municipal e das antecipações (13º salário de benefícios e liquidação de precatórios), permite antecipar um período mais síncrono com a política monetária. Somado aos ganhos de produtividade advindos da reforma trabalhista e dos desenvolvimentos tecnológicos pós-pandemia (que certamente elevaram o PIB potencial brasileiro), em um momento de desaceleração global e elevação do diferencial de taxas de juros (que tende a valorizar o real), a necessidade de novas elevações de juros perde força. Os riscos permanecem associados às crescentes tensões geopolíticas e às condições climáticas cada vez mais hostis, fatores que não podem ser controlados por meio de ajustes na política monetária.
Atenciosamente,